Opiniões e perspectivas

O Inaf e as consultoras Natura

Logotipo do Podcast do Inaf
Publicado: 04/03/2020
Equipe Inaf

Transcrição do podcast

 

Ricardo Falzetta 

Olá, eu sou Ricardo Falzetta

 

Paola Gentile 

Eu sou Paola Gentile.

 

Ricardo Falzetta

E este é o Podcast do Inaf.

 

Paola Gentile

Metade da população adulta brasileira estudou somente até o Ensino Fundamental. Isso foi o que detectou o IBGE na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a PNAD, de 2017. São cerca de 66 milhões de pessoas com 25 anos de idade ou mais que cursaram até o 9º ano apenas. É muita gente. Gente que trabalha, que consome, que sobrevive realizando as mais diversas atividades.

 

Ricardo Falzetta

Seria muito bom ver todas essas pessoas voltando a estudar. Mas não há sistema educacional que dê conta de tamanha demanda. Há um provérbio africano que muita gente costuma citar ao falar da importância da educação. Ele diz: “Para educar uma criança é preciso toda uma aldeia”. De tão especial, esse provérbio vale também para os adultos que tiveram seu percurso educacional interrompido.

 

Paola Gentile

A aldeia, nesse caso, são todos os ambientes que essas pessoas frequentam. Uma empresa, uma fazenda, os meios de transporte, os contextos digitais e o mercado financeiro, por exemplo, são lugares com potencial para fazer com que os indivíduos que ali trabalham ou circulam se desenvolvam. Em todos eles, é possível criar situações que promovam aprendizagem.

 

Ricardo Falzetta

No Podcast de hoje, vamos contar como a Natura está fazendo isso. Essa famosa empresa brasileira do ramo de cosméticos oferece oportunidades de desenvolvimento para suas 1 milhão e 200 mil consultoras e líderes de negócios que revendem os produtos da marca em todo o território nacional. 

 

Paola Gentile

Para oferecer alternativas eficientes, o Instituto Natura, braço educacional do grupo, foi acionado. O trabalho começou com um diagnóstico para saber o que a empresa poderia fazer para melhorar a vida das consultoras e líderes.  

 

Ricardo Falzetta 

Quem conta em detalhes essa história é David Saad, diretor-presidente do Instituto Natura.

 

David Saad

A Natura começa a investir em Educação em 1995, antes mesmo de existir o Instituto Natura. E ela investe em Educação, ela começou esse processo, criando uma linha de produtos chamado Crer para Ver. Todo o recurso, todo o lucro que é auferido a partir da venda dos produtos Crer para Ver, desde aquela época, já é endereçado a projetos ligados a Educação. E a lógica disso era um círculo virtuoso, onde a consultora compra esse produto e revende e ela não tem lucro nenhum com esse trabalho, a Natura também não tem lucro nenhum, e todo o lucro vai ser investido em projetos de Educação. Em 2010 é fundado o Instituto Natura. Continua essa mesma regra do círculo virtuoso e o Instituto passa a investir os recursos do Crer para Ver. O que a gente mais recentemente fez? A gente falou: “Vamos tentar acelerar um pouco esse círculo virtuoso, vamos continuar fazendo esse círculo, mas vamos tentar levar o desenvolvimento e um crescimento educacional direto para a própria consultora”. E aí nasce o que a gente chama de Educação CN, ou Educação para as Consultoras Natura, que é um projeto do Instituto Natura, em parceria com a Natura, que tem o objetivo de ajudar no desenvolvimento das consultoras, como seres humanos autônomos – nada a ver com capacitação técnica, mas para a vida dela. E aí, qual era a grande questão? A grande questão é assim. Se você pensa na Educação brasileira, por exemplo, e você quer saber se melhorou a alfabetização das crianças, você tem a Avaliação Nacional da Alfabetização. Se você quer saber se melhorou o Ensino Fundamental 1, tem o Saeb [Sistema de Avaliação da Educação Básica] e o Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica]. E para as consultoras a gente não tinha um jeito de fazer um diagnóstico inicial e depois também ver se havia evolução ou não. Pesquisando caminhos, a gente resolveu adotar o Inaf, tanto como uma avaliação diagnóstica, para conseguir entender em que estágio as consultoras estavam, e depois também para periodicamente fazer uma mensuração e ver se as intervenções que a gente vai se propor a fazer com as consultoras estão efetivamente surtindo efeito. Daí surgiu a ideia de usar o Inaf para as consultoras.

 

Paola Gentile

Que objetivos a médio e longo prazo tanto a Natura quanto o Instituto Natura esperam com essa iniciativa?

 

David Saad

Essa é uma coisa bem importante porque, da mesma forma que a gente tem expectativa nos nossos trabalhos com a Educação pública brasileira, de melhorias efetivas em resultados mensuráveis… Por exemplo, uma das linhas de atuação aqui do Instituto Natura é na alfabetização. Então, a gente tem uma expectativa que os indicadores mensuráveis de alfabetização evoluam. Da mesma forma, a gente tem essa expectativa em relação às consultoras e líderes. Então, a partir da pesquisa que foi feita pelo Inaf, a gente identificou um percentual, um indicador mensurável, e a partir disso fazemos uma projeção do quanto a gente espera que isso melhore. Então, para dar um exemplo, X% de consultoras são proficientes ou estão no segundo melhor nível de alfabetismo segundo o Inaf. Ah, esse X% é baixo, a gente gostaria de Y% daqui a 4 anos. Então a gente vai fazer uma série de intervenções para conseguir evoluir isso e chegar nesse valor. Então, o Inaf vem casado com uma proposta de intervenção do Instituto Natura junto às consultoras para melhorar esses indicadores. Não é só uma mensuração que a gente fala “Ah, medimos e esse é nosso papel”. Não, essa mensuração vem a favor de uma intervenção, que depois a gente vai medir isso de novo e vai ter que ver essa melhora nos resultados. 

 

Paola Gentile

Para fazer o plano sair do papel, foi fundamental o trabalho da jornalista Marcela Ramos Souto, coordenadora de comunicação e educação para consultoras do Instituto Natura. Marcela conta a seguir quais foram os primeiros passos do programa EDUCAÇÃO CONSULTORAS NATURA, ou EDUCAÇÃO CN.

 

Marcela Ramos Souto

Em 2014, a Natura faz o IDH-CN, que é o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da consultora Natura. É uma adaptação da metodologia do IDH para essa rede de consultoras. O objetivo era entender, de fato, qual é o nível, o Índice de Desenvolvimento Humano das consultoras da Natura e se a atividade de consultoria contribui para o desenvolvimento humano dessa rede. A hipótese era que sim, que havia uma contribuição. Então, em 2014, a Natura faz toda essa adaptação junto com o Flávio Comin, que é da [Universidade] Federal do Rio Grande do Sul, um dos co-criadores do IDH, e aplica pela primeira vez. No começo de 2015, vem o resultado, e o resultado do IDH-CN é que temos um universo que é uma amostra da população brasileira. Uma amostra representativa. E que os grandes ofensores do IDH são saúde e Educação, assim como da população brasileira. Então, a Natura, com esse dado mais objetivo, entendendo que saúde e Educação eram as duas questões que puxavam esse desenvolvimento humano para baixo, começa a se debruçar nesses resultados e a entender como a Natura, o seu negócio e a atividade de consultoria podem então contribuir com o aumento desse IDH. As questões de saúde a Natura começa a tratar internamente e as questões de Educação são endereçadas para o Instituto, justamente pelo fato de a Natura ser uma empresa que tem uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), que tem o Instituto, cuja expertise de atuação é a Educação. 2016 foi o ano de formatar as primeiras iniciativas. Em agosto de 2016, são lançadas as primeiras ofertas, as primeiras oportunidades que a Natura chama de benefícios de Educação para as consultoras.

 

Paola Gentile

Quais foram esses benefícios?

 

Marcela Ramos Souto

Os primeiros foram parcerias com instituições de ensino superior, de ensino técnico profissionalizante, de idiomas e preparatório para o Enem – numa época, 2016, que o Enem certificava o Ensino Médio. Também um conjunto de outras iniciativas que foram desenvolvidas por nós aqui no Instituto com parceiros técnicos, curadores de conteúdo, com foco não em escolaridade formal mas em desenvolvimento de competências e habilidades, muito inspirados e baseados – esse projeto nasce baseado na matriz de competências do século XXI, que trata de competências cognitivas mas também comportamentais e socioemocionais – e aí, nesse mesmo ano, nasce um outro conjunto de formações, de trilhas formativas que se propõem a trabalhar essas outras competências – desde autoconhecimento e autoestima até comunicação, criatividade, diversidade e questões também que incentivassem a participação delas em outras iniciativas de Educação. 

 

Ricardo Falzetta

Depois desse período de diagnóstico e das primeiras ofertas de formação, a equipe do Instituto percebeu que estava atingindo apenas a parcela mais privilegiada das consultoras. Era preciso aprofundar ainda mais o diagnóstico para chegar à base da pirâmide. 

 

Marcela Ramos Souto

No final de 2017, foi o ano que a gente entendeu que estávamos falando com o topo da pirâmide de consultoras. Com a sinalização desse outro diagnóstico, de que com o que estou oferecendo só estou atingindo o topo da pirâmide, mas não estou chegando na base, veio a necessidade de entender melhor então qual é a realidade dessa consultora que não está acessando os benefícios de Educação. Por que não está? É uma questão de custo? É uma questão de escolaridade? Por onde isso passa? E aí vêm outros muitos entendimentos e o Inaf foi um deles. Ana Lima [responsável pela coordenação do Inaf] é uma parceira do Instituto Natura de longa data, participa com a gente das discussões e da concepção da iniciativa desde o início, desde 2015. O Inaf vem então em 2017 para ajudar a gente a entender o cenário dessa base da pirâmide. O Inaf Brasil já trazia muita coisa, muita informação relevante. A gente tem já um déficit de escolaridade nas consultoras. Cerca de 40% delas não têm o Ensino Médio completo. Quase 20% não têm o Fundamental. O que o Inaf traz é que escolaridade não significa proficiência. Quando a gente olha o Inaf Brasil vemos que mesmo com a escolaridade básica, média, não significa que a pessoa tem proficiência. Então, vamos entender. Tem uma questão sociodemográfica e econômica, que é muito importante quando a gente fala em Educação para adultos. Mas têm outras questões que talvez a nossa intervenção e as nossas ofertas não estejam dando conta, porque eu não estou conseguindo falar com esse público, elas [as intervenções] não estão adequadas para um público que é menos escolarizado e que, mesmo que seja escolarizado, talvez não tenha a proficiência necessária para consumir esse conteúdo formativo. Então, em 2017, com essa sinalização, vem a necessidade de aprofundar esses entendimentos. E 2018 foi o ano em que a gente começa a olhar para o Inaf como um indicador relevante para a nossa intervenção. Não como o indicador Brasil, em que a gente se inspira, mas como um potencial indicador da nossa intervenção, para o nosso público, para o nosso universo de consultoras, que iria ajudar a entender, para além dessas questões mais objetivas de escolaridade e questões econômicas e sociodemográficas, qual é o cenário de fato dessa consultora, no sentido das capacidades e habilidades. Para que, daí, a gente pudesse olhar para a nossa intervenção e direcionar nossa intervenção para um lugar mais adequado, que vá mais ao encontro das necessidades e do perfil e das habilidades que essas consultoras têm e aquilo que a gente se propõe a desenvolver. 

 

Paola Gentile

Para aplicar o Inaf, o primeiro passo foi conhecer o indicador em profundidade. 

 

Marcela Ramos Souto

No primeiro momento, a gente se debruçou no entendimento e no conhecimento do Inaf Brasil, para entender como ele se relacionava e como poderia contribuir com a intervenção. Entendendo que, sim, ele tinha um potencial de contribuição tanto diagnóstica quanto de indicador de qualidade e de eficácia, vem um segundo momento, que é entender como faremos isso para o nosso universo, o nosso público. Como faremos essa aplicação? A gente vai fazer uma modulação, uma adaptação? Como a gente vai fazer? E aí uma decisão importante foi fazer o Inaf tal qual ele é feito no Brasil. A primeira decisão foi: “A gente não vai fazer nenhuma adaptação. A gente vai aplicar exatamente com ele é aplicado hoje na amostra da população brasileira, até para não perder a referência”. O objetivo era muito mais manter a referência, eu quero poder, com segurança, comparar o resultado da minha população com o da população brasileira.  

 

Ricardo Falzetta

A primeira rodada da pesquisa foi feita com as líderes de negócios. Enquanto este podcast era gravado, o Inaf CN era aplicado em uma amostra representativa da base de consultoras Natura. 

 

Marcela Ramos Souto

Depois que a gente tomou essa decisão de manter a referência metodológica, fizemos a primeira aplicação em janeiro com esse grupo de líderes de negócio, que são 5.400 pessoas. A gente fez numa amostra representativa. A partir dessa aplicação, muito com esse olhar de o Inaf não ser só um diagnóstico, mas ser um instrumento, uma ferramenta de acompanhamento da nossa intervenção, de qualidade, veio a necessidade de medir outras competências e outras habilidades que inicialmente o Inaf não se propunha a avaliar, a medir, como Educação Financeira. Inclusão digital, já existia um bloco, mas [havia] uma necessidade de ampliar um pouco mais esse bloco de inclusão digital. E de trazer outras competências, como noções de cidadania, de saúde – para entender um pouco por onde passa o acesso à informação, como um letramento mesmo. Quando a gente fala do Inaf a gente fala dos diversos letramentos. Letramento cidadão, digital, financeiro. E também na questão de saúde. Isso veio depois dessa primeira aplicação.   

 

Paola Gentile

Com os resultados obtidos, o Instituto planejou ações formativas.

 

Marcela Ramos Souto

Quatro ações, este ano, que foram desenvolvidas a partir desse resultado. Além dessa questão da proficiência que apareceu, uma outra questão que ficou evidenciada pelo Inaf é o uso de tecnologia. Por mais que elas [as consultoras] são muito eficientes no uso das tecnologias de comunicação, algumas outras ferramentas, como planilhas, tabelas, e-mail, a maioria delas não usa ou tem dificuldade para usar. Olhando para o papel delas, são ferramentas importantes de trabalho. E a parte de matemática, que foi o bloco com os menores resultados também no Inaf. Então, entendendo e analisando esses resultados e cruzando isso com outros dados de escolaridade, isso derivou em quatro intervenções específicas para esse público. Uma formação de Educação Financeira, pensando nela, no negócio dela como consultora e como líder, que tem esse papel de orientação de um grupo. Uma iniciativa que endereça a questão da escolaridade, que é um cursinho preparatório para o Encceja [Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos], que é a avaliação certificadora da Educação Básica. Uma outra formação com foco em proficiência de leitura, escrita e matemática – e aqui não tem foco em escolaridade, mas sim no aumento da proficiência. E bolsas de estudo para a graduação – aí também endereçando a questão da escolaridade. Então, escolaridade endereçando nessas duas etapas, a certificação do Ensino Médio com o curso preparatório para o Encceja e a bolsa de estudos para o ingresso no Ensino Superior e, além dessa questão da escolaridade, desenvolvimento de proficiências de letramento e numeramento e a formação específica em Educação Financeira. 

 

Paola Gentile

E qual foi a adesão do público a essas iniciativas?

 

Marcela Ramos Souto

A gente está com duas delas, por enquanto, no ar, já lançadas para esse público. A de Educação Financeira, que é um curso, uma formação feita 100% por WhatsApp, e a gente teve uma adesão de 93% do público, foi enorme, maior do que a gente esperava. E a gente está com média de realização das atividades de 76%. É feita por WhatsApp mas tem toda uma estrutura de conteúdo e cada conjunto de conteúdos, são 12 ao todo, tem atividades práticas, exercícios para elas realizarem. E a gente está com 76% de realização das atividades e 93% de adesão e tem recebido feedbacks e interações bastante positivas. E as bolsas de estudo para graduação, que a gente também começou a distribuir em setembro (2019), e aí é uma quantidade mais limitada, até por capacidade financeira. Mas todas as bolsas disponibilizadas tiveram adesão. Estão agora em processo seletivo.  

 

Ricardo Falzetta

Voltando um pouquinho na iniciativa pelo WhatsApp. Como foi esse processo? Como chegaram nesse formato e na escolha dessa ferramenta? Como ela está caminhando?

 

Marcela Ramos Souto

O Inaf contribuiu muito com isso. O Inaf 2018 trouxe isso, de que a gente tem uma população brasileira 9% proficiente, mas 95% da população está no WhatsApp, independentemente de nível de escolaridade ou de proficiência. As pessoas no Brasil usam o WhatsApp. Hoje ela é a ferramenta mais democrática que temos de comunicação. Não só pelo acesso, mas pelo formato. A gente entende que com o Whatsapp a população ultrapassa duas barreiras essenciais. [A barreira] Da inclusão digital, do acesso. Eu tenho 95% da população que tem acesso à ferramenta, e tem acesso à ferramenta porque a gente sabe que isso também passa por questões como pacote de dados, memória de aparelho. Então, por mais que a pessoa tenha um aparelho muito simples, que não permita que ela tenha um aplicativo, e a gente sabe que isso é uma realidade do nosso universo de consultoras, muitas têm aparelhos muito simples, com pouca memória, que não permite ela usar aplicativos – já temos uma barreira. O Whatsapp ultrapassa isso, ela não precisa de memória e nem de muitos dados e geralmente os planos pré-pagos de telefonia já têm acesso geralmente ilimitado ou um grande acesso ao WhatsApp. A outra barreira é a do próprio letramento. Você não precisa ser proficiente, não precisa ser letrado para usar o WhatsApp. Justamente pelos recursos de comunicação: áudio, vídeo, imagem, emojis… Então, você ultrapassa também essa barreira do letramento. Basicamente, por essas questões, a gente entendeu que o WhatsApp era uma boa ferramenta. Com isso, vêm desafios também. Como eu faço uso de uma ferramenta que é de comunicação para fazer formação? Eu desvirtuo a ferramenta. E como eu faço isso e o meu interlocutor entende que ele está participando de um processo formativo e não é só uma interação de comunicação, que ele não precisa de fato ter uma dedicação, uma atenção, uma interação com aquilo? Então, toda essa formação é feita por WhatsApp e a base dela são vídeos e áudios. São pouquíssimos textos. 

 

Ricardo Falzetta

O curso foi formatado pelo Instituto Natura com parcerias?

 

Marcela Ramos Souto

Com parceiros técnicos. Para essa iniciativa de Educação Financeira, especificamente, a gente tem um parceiro técnico que opera toda essa formação por WhatsApp e desenvolve isso junto conosco. Para tudo a gente envolve a rede. Tivemos várias líderes que participaram do processo de construção. Fizemos muitos grupos de construção e de discussão. Mas tem um parceiro técnico. E as outras iniciativas, tanto o cursinho preparatório para o Encceja quanto a formação de incremento de proficiência, a gente também desenvolveu para o WhatsApp. São conteúdos que ainda não foram lançados mas estão prontos. E a gente fez com o mesmo parceiro técnico implementador e chamou outros parceiros especialistas nesses temas para desenvolver o conteúdo. A de incremento de proficiência, de letramento e numeramento, o parceiro técnico de conteúdo foi o Instituto Paulo Freire. E o preparatório para o Encceja foi a Ação Educativa, [com a coordenação de] Roberto Catelli, como especialistas nesse tema do próprio Encceja, de certificação da Educação Básica. Então, sempre temos parceiros técnicos especialistas no assunto para desenvolver isso em conjunto. É novo para todo mundo.  

 

Ricardo Falzetta

Dalva de Oliveira tornou-se líder de negócios da Natura há 12 anos, depois de ter atuado como  consultora por 1 ano. Ela é de Barretos, no interior de São Paulo, onde fez toda a Educação Básica em escola pública. Assim que terminou o Ensino Médio, entrou numa faculdade particular para cursar engenharia civil. 

 

Dalva de Oliveira

Eu fiz 3 anos e meio, mas muito nova né, sem ter certeza do que queria, [você] começa a pensar em outras coisas e tudo… E eu parei. Eu resolvi trancar e fui fazer outras coisas, pensando mais em trabalhar, em outras coisas. 

 

Paola Gentile

Os caminhos da vida foram afastando Dalva cada vez mais dos estudos. O trabalho como gerente em um restaurante de um posto de gasolina não exigia formação superior. 

 

Ricardo Falzetta

Como a cidade de Barretos é sinônimo de rodeio e Dalva é exímia montadora, não pôde deixar de participar das competições que todos os anos atraem milhares de fãs para a festa do peão mais famosa do Brasil. Dalva dedicou-se ao Tambor, uma das provas de montaria, que exigia dela treinos à noite e viagens nos finais de semana, mais um problema para quem estuda.

 

Paola Gentile 

Dalva casou-se e logo nasceu a filha, Eduarda. Por complicações no parto a menina sofreu um descolamento de retina e ficou cega. Para que Eduarda tivesse o direito à inclusão sempre garantido, o apoio de Dalva foi decisivo. Com o tempo, as competições perderam prioridade. 

 

Ricardo Falzetta

Voltar a estudar passou a ser uma das metas de Dalva, mas somente quando Eduarda não mais exigisse os seus cuidados, talvez quando a menina concluísse a Educação Básica.

E foi o que aconteceu, dessa vez com o apoio da Natura.

 

Dalva de Oliveira

E aí, quando ela acabou o colegial [Ensino Médio], foi que eu pensei “agora eu consigo estudar”. Mas a minha necessidade mesmo de voltar a estudar foi na parte profissional. Porque como eu virei líder de negócios na Natura, eu sentia a necessidade de ter um estudo para poder mudar de cargo. Porque eu fui convidada duas, três vezes para ser gerente, tinha a possibilidade de mudar, mas por conta de não ter a faculdade, não tinha como. Fui lá, fiz a matrícula, certinho, e falei “agora vou começar”.

 

Paola Gentile

Que curso?

 

Dalva de Oliveira

Gestão de Recursos Humanos.

 

Paola Gentile

Onde?

 

Dalva de Oliveira

Na Estácio [de Sá]. É a distância. Então tem o pólo em Barretos, que a gente só vai para fazer as provas e [buscar] orientação se você precisar de alguma informação ou alguma necessidade que tenha. São dois anos, quatro períodos. Eu já estou no terceiro período. Hoje, trabalhando como líder, é um conteúdo ótimo. Eu escolhi uma coisa que é legal, agrega bastante dentro do que eu faço. Porque a gente se relaciona com pessoas. É o desenvolvimento de pessoas. O trabalho nosso é esse, é desenvolver consultoras, passar para elas as coisas. Então, assim, ficou mais fácil para mim. Tanto o administrativo do meu trabalho, quanto acolher as consultoras e passar informações para elas. Porque o curso agrega bastante essas coisas. 

 

Paola Gentile

Dalva recebe da Natura uma bolsa de 50% do valor da mensalidade. Como esse benefício é extensivo à família, hoje ela e a filha estudam juntas na faculdade, em um curso de gestão de recursos humanos. Dalva está um semestre à frente.

 

Eduarda Oliveira

Eu fui inspirada pela minha mãe, né. E como é uma área que eu gosto, então eu escolhi também fazer esse curso. 

 

Paola Gentile

Vocês estudam juntas, então?

 

Eduarda Oliveira

Sim. Só que ela está no terceiro período e eu estou no segundo.

 

Dalva de Oliveira

E a cobrança vem dela. 

 

Eduarda Oliveira

Claro! 

[Risos]

 

Dalva de Oliveira

Depois eu falei assim “eu acho que eu fiz a coisa errada né” [risos]. Eu fiz o primeiro período, eu tô um período adiantada. E aí ela entrou e começa “tem prova, tem atividade, não esquece de fazer tal trabalho, não esqueça disso”. Eu falei “gente, agora é minha mãe aqui me cobrando”. Então, tem essa coisa de toda hora “Estudou? Fez isso?”.

 

Ricardo Falzetta

Ela cobra mais você do que o contrário…

 

Dava de Oliveira

Sim, mas aí eu falei “foi bom”, porque vem essa coisa também da troca, né. O incentivo dela. Porque acaba impulsionando a gente. “Não esquece!” Porque a gente acaba tendo uma vida corrida. E ela tem o tempo de estudar legal. Ela é bem empenhada. E aí vem cobrando “não esquece de estudar! Não esquece da prova!”. 

 

Paola Gentile

E você está gostando de estudar a distância?

 

Eduarda Oliveira

Sim, porque tem a flexibilidade de tempo, né. Estudo em casa, a hora que é melhor. Então é muito bom.

 

Ricardo Falzetta

Com a experiência acumulada, o Instituto Natura agora pode aconselhar outras empresas ou instituições que queiram fazer uso do Inaf. David Saad explica.

 

David Saad

Uma primeira coisa importante é destacar que as consultoras da Natura não são colaboradoras da empresa. É um outro tipo de parceria de trabalho. Ela não é exatamente uma colaboradora. Então, esse trabalho não é um trabalho típico do que seria do RH, por exemplo. Por isso que o Instituto tem esse olhar para as consultoras diferenciado. Mas uma empresa que tem colaboradores ou que também tem uma cadeia de produção que envolve outros parceiros, outros públicos, pode utilizar esse mesmo conceito. E, para isso, no fundo, o que a empresa tem a preocupação é com o desenvolvimento desse grupo de pessoas. Isso varia de empresa para empresa. Quando a gente fala de Inaf, com certeza, se você considerar um escritório onde você só tenha gente com ensino superior, aí pode não fazer sentido. Mas para uma empresa que tenha uma diversidade maior de público, eu acho que faz muito sentido. Então eu acho que é uma ferramenta sim que, porventura, poderá ser utilizada por outras empresas ou instituições do terceiro setor ou quem quer que seja. Empresas e instituições que se interessarem em avançar nessa agenda podem vir conversar com a gente, porque temos uma expertise que acabamos acumulando. Mas acho que fatalmente tem uma necessidade de conhecimento técnico educacional para conseguir avançar com isso.  

 

Ricardo Falzetta

Para saber mais sobre alfabetismo funcional, navegue no site e acesse as tabelas e os gráficos de todas as medições.

 

Paola Gentile

O Podcast do Inaf é produzido pela RFPG Comunicação.

 

Ricardo Falzetta

Roteiro e apresentação, Paola Gentile e Ricardo Falzetta.

 

Paola Gentile

Edição e mixagem, Marcos Azambuja e Ganzah Produtora de Áudio.

 

 

 

Conheça o Inaf

O Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) é um estudo de alcance nacional, realizado desde 2001, que estima os níveis de alfabetismo funcional da população e investiga seus determinantes. Parceria entre o Instituto Paulo Montenegro e a ONG Ação Educativa, a iniciativa é coordenada pela Conhecimento Social. O levantamento é feito por meio de entrevista pessoal e teste cognitivo aplicado a uma amostra representativa da demografia e da diversidade socioeconômica e geográfica da população brasileira que está entre 15 a 64 anos.

De acordo com o Inaf, o indivíduo é funcionalmente alfabetizado quando apresenta um determinado grau de proficiência em letramento e numeramento. O letramento é a habilidade de ler e escrever diferentes gêneros, em diferentes suportes e formatos, com coerência e compreensão crítica. O numeramento é a habilidade de construir raciocínios e aplicar conceitos numéricos simples, ou seja, usar a matemática para atender às demandas do cotidiano. É por meio dessas capacidades que o indivíduo terá plenas condições de participar ativamente da sociedade em seus mais diversos âmbitos.

Os resultados do Inaf localizam a população pesquisada em cinco níveis de alfabetismo. Nos dois primeiros – analfabeto e rudimentar – agrupam-se os chamados analfabetos funcionais. Nos três níveis seguintes – elementar, intermediário e proficiente – concentram-se os indivíduos considerados alfabetizados funcionalmente.

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