Retrato INAF Brasil

Metodologia

Nesta nota técnica são apresentados números e detalhes sobre como é feita a pesquisa e sobre como o Inaf é calculado.

Metodologia Inaf

A cada edição do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), são entrevistadas 2.002 pessoas entre 15 e 64 anos de idade, residentes em zonas urbanas e rurais de todas as regiões do país. Os resultados da pesquisa têm intervalo de confiança estimado de 95% e margem de erro máxima estimada de 2,2 pontos percentuais, para mais ou para menos.

As entrevistas são realizadas presencialmente, em domicílio. A amostra é estratificada com alocação proporcional à população brasileira em cada região. Dentro de cada uma das regiões, são selecionadas amostras probabilísticas, com o método Probabilidade Proporcional ao Tamanho (PPT). A seleção de pessoas a serem entrevistadas é feita por cotas proporcionais aos dados populacionais do IBGE mais recentes (Censo ou Pnad) segundo sexo, idade, escolaridade e condição de ocupação.

Os resultados são submetidos à Teoria da Resposta ao Item (TRI) para que se construa uma escala de proficiência.

2.002

entrevistados a cada edição

10

edições, desde 2001

658

municípios brasileiros, de todas as regiões do país, pesquisados ao longo das dez edições.

141

pesquisadores envolvidos na edição 2018

5

níveis de alfabetismo

150

questões parametrizadas no banco de itens

Para estimar os níveis de alfabetismo, é aplicado um teste cognitivo de alfabetismo, composto por 32 itens que abordam situações do cotidiano. São avaliadas duas dimensões do alfabetismo: a dos textos verbais (tais como bilhetes, notícias, instruções, textos narrativos) e a dos textos numéricos (gráficos, tabelas, mapas, folhetos de ofertas do comércio, entre outros). Para o Inaf, essas duas dimensões são designadas respectivamente como Letramento e Numeramento.

A cada entrevistado é também aplicado um questionário contextual, abordando temas do dia a dia em diferentes âmbitos: vida doméstica, trabalho, situações de consumo, lazer e outros espaços da vida social. Ao longo do tempo, tanto o teste quanto o questionário contextual vêm crescentemente incorporando elementos do contexto digital.

Até a edição de 2018 a definição de amostras, a coleta e o processamento de dados foram feitos por especialistas do IBOPE Inteligência com o mesmo rigor técnico de seus demais trabalhos. A partir de então, para a realização destas etapas, o Inaf conta com a expertise de profissionais advindos do IBOPE Inteligência que fundaram o IPEC. Para o desenvolvimento dos instrumentos de medição de habilidades, assim como para a interpretação dos resultados, o Inaf conta com a expertise da Ação Educativa – organização que há duas décadas desenvolve projetos de pesquisa e intervenção no campo da alfabetização e da Educação de Jovens e Adultos – além da contribuição de especialistas de importantes centros universitários do país.

Desde a edição de 2018, a coordenação do estudo passa a contar com a parceria da Conhecimento Social, responsável pela divulgação dos resultados e pela construção de parcerias institucionais, visando amplificar o potencial de incidência do indicador.

Os cinco níveis da escala de proficiência

Em 2015, a estrutura de níveis foi aprimorada, passando de quatro para cinco, e a série histórica foi reconstruída desde 2001. Para fins de análise, os cinco níveis de alfabetismo podem ser agrupados em três ou em dois níveis, como mostra o infográfico abaixo.

Tabela de níveis de alfabetismo funcional

O agrupamento em três níveis apresenta, em um extremo, os analfabetos funcionais (nível Analfabeto + nível Rudimentar) e, no outro, os alfabetizados em nível consolidado (nível Intermediário + Proficiente). Entre ambos, estão os alfabetizados em nível elementar, grupo de maior proporção (34%) dentre os brasileiros na faixa etária estudada pelo Inaf. Embora não caracterizados como analfabetos funcionais, os indivíduos nesse nível de alfabetismo apresentam importantes limitações em suas habilidades de alfabetismo. A divisão em três níveis é particularmente relevante para permitir análises em subgrupos populacionais (sexo, faixa etária, grau de escolaridade etc.) sujeitos a maior margem de erro pela redução do tamanho da amostra.

Quando agregados, os níveis 1 (Analfabeto) e 2 (Rudimentar) compõem o grupo dos considerados analfabetos funcionais. E os níveis 3 (elementar), 4 (intermediário) e 5 (proficiente), somam os considerados funcionalmente alfabetizados.

O quadro a seguir apresenta as habilidades que caracterizam os cinco níveis de alfabetismo, em cada nível de complexidade da escala, construída com base nos itens aplicados no teste cognitivo. Desse modo, espera-se que indivíduos localizados nos níveis superiores da escala revelam as habilidades descritas no nível correspondente e acumulem também o domínio das habilidades dos níveis anteriores.

Níveis
Escala dos níveis de alfabetismo
Analfabeto (0 < x ≤ 50)
  • Corresponde à condição dos que não conseguem realizar tarefas simples que envolvem a leitura de palavras e frases ainda que uma parcela destes consiga ler números familiares (números de telefone, preços etc.).
Rudimentar (50 < x ≤ 95)
  • Localiza uma ou mais informações explícitas, expressas de forma literal, em textos muito simples (calendários, tabelas simples, cartazes informativos) compostos de sentenças ou palavras que exploram situações familiares do cotidiano doméstico.
  • Compara, lê e escreve números familiares (horários, preços, cédulas/moedas, telefone) identificando o maior/menor valor.
  • Resolve problemas simples do cotidiano envolvendo operações matemáticas elementares (com ou sem uso da calculadora) ou estabelecendo relações entre grandezas e unidades de medida.
  • Reconhece sinais de pontuação (vírgula, exclamação, interrogação etc.) pelo nome ou função.
Elementar (95 < x ≤ 119)
  • Seleciona uma ou mais unidades de informação, observando certas condições, em textos diversos de extensão média realizando pequenas inferências.
  • Resolve problemas envolvendo operações básicas com números da ordem do milhar, que exigem certo grau de planejamento e controle (total de uma compra, troco, valor de prestações sem juros).
  • Compara ou relaciona informações numéricas ou textuais expressas em gráficos ou tabelas simples, envolvendo situações de contexto cotidiano doméstico ou social.
  • Reconhece significado de representação gráfica de direção e/ou sentido de uma grandeza (valores negativos, valores anteriores ou abaixo daquele tomado como referência).
Intermediário (119 < x ≤137)
  • Localiza informação expressa de forma literal em textos diversos (jornalístico e/ou científico) realizando pequenas inferências.
  • Resolve problemas envolvendo operações matemáticas mais complexas (cálculo de porcentagens e proporções) da ordem dos milhões, que exigem critérios de seleção de informações, elaboração e controle em situações diversas (valor total de compras, cálculos de juros simples, medidas de área e escalas);
  • Interpreta e elabora síntese de textos diversos (narrativos, jornalísticos, científicos), relacionando regras com casos particulares a partir do reconhecimento de evidências e argumentos e confrontando a moral da história com sua própria opinião ou senso comum.
  • Reconhece o efeito de sentido ou estético de escolhas lexicais ou sintáticas, figuras de linguagem ou sinais de pontuação.
Proficiente (>137)
  • Elabora textos de maior complexidade (mensagem, descrição, exposição ou argumentação) com base em elementos de um contexto dado e opina sobre o posicionamento ou estilo do autor do texto.
  • Interpreta tabelas e gráficos envolvendo mais de duas variáveis, compreendendo elementos que caracterizam certos modos de representação de informação quantitativa (escolha do intervalo, escala, sistema de medidas ou padrões de comparação) reconhecendo efeitos de sentido (ênfases, distorções, tendências, projeções).
  • Resolve situações-problema relativas a tarefas de contextos diversos que envolvem etapas de planejamento, controle e elaboração exigindo a retomada de resultados parciais e o uso de inferências.

Níveis de alfabetismo da população brasileira adulta

Tabela 1 – Proficiências médias por nível de alfabetismo

Níveis
2001
2002
2002
2003
2003
2004
2004
2005
2007
2009
2011
2015
2018
Analfabeto
33,3
33,5
34,0
33,8
34,7
31,3
29,3
35,1
31,5
Rudimentar
76,6
76,5
75,8
75,8
76,3
78,2
78,2
77,9
77,7
Elementar
106,8
106,6
106,5
106,8
108,0
108,3
108,1
107,6
108,1
Intermediário
127,9
127,6
127,6
127,9
128,7
127,3
126,8
126,8
127,2
Proficiente
148,7
148,7
148,7
148,6
148,9
147,3
146,5
146,0
147,0
Total da população
99,1
98,7
99,6
100,2
102,8
106,4
106,1
105,1
104,8

Fonte: Inaf 2001-2018

A tabela 1 mostra a evolução das médias de proficiências de cada um dos cinco níveis no período de 2001-2002 a 2018, corroborando a consistência dos dados ao longo das dez edições do indicador.
Numa escala mais usual, de 0 a 10, seria possível dizer que os analfabetos tiraram, em 2018, a nota 1,6, os alfabetizados apenas em nível rudimentar obteriam a nota 3,9, os alfabetizados em nível elementar alcançariam a nota 5,5, os alfabetizados em nível intermediário obteriam a nota 6,6 e os proficientes a nota 7,4, com pouca variação ao longo de todo o período. A tabela 2 mostra a evolução dos níveis de alfabetismo junto à população brasileira entre 15 e 64 anos entre 2001 e 2018, indicando uma importante redução na proporção de analfabetos funcionais. Por outro lado, permanece constante a proporção daqueles que atingem o nível proficiente de alfabetismo.

Tabela 2 - Níveis de alfabetismo no Brasil conforme o Inaf (2001-2018)

Níveis
2001
2002
2002
2003
2003
2004
2004
2005
2007
2009
2011
2015
2018
BASES
4.000
4.000
4.002
4.004
2.002
2.002
2.002
2.002
2.002
Analfabeto
12%
13%
12%
11%
9%
7%
6%
4%
8%
Rudimentar
27%
26%
26%
26%
25%
20%
21%
23%
22%
Elementar
28%
29%
30%
31%
32%
35%
37%
42%
34%
Intermediário
20%
21%
21%
21%
21%
27%
25%
23%
25%
Proficiente
12%
12%
12%
12%
13%
11%
11%
8%
12%
Total
100%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
Analfabeto Funcional*
39%
39%
37%
37%
34%
27%
27%
27%
29%
Funcionalmente alfabetizados*
61%
61%
63%
63%
66%
73%
73%
73%
71%

Fonte: Inaf 2001-2018

Para os anos 2001 a 2005 os dados são apresentados em médias móveis já que nesse período foram aplicadas alternadamente provas específicas de letramento (2001, 2003 e 2005) e numeramento (2002 e 2004). A partir de 2007, as provas do Inaf contemplam ambas as dimensões. As médias para o período 2001-2005 permitem reconstruir o conceito de alfabetismo, tornando a série histórica comparável ao longo do tempo.