Opiniões e perspectivas

As conquistas e os desafios da Educação de Jovens e Adultos

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Publicado: 04/03/2020
Equipe Inaf

Transcrição do podcast

Ricardo Falzetta

Olá, eu sou Ricardo Falzetta.

 

Paola Gentile

Eu sou Paola Gentile.

 

Ricardo Falzetta

E este é o Podcast do Inaf.

 

Paola Gentile

Recomeçar o que foi interrompido ou começar o que nem pôde ser iniciado. Esse é o desafio de quem procura a escola depois de adulto para retomar os estudos. São pessoas que querem tirar o atraso, imposto no passado por situações de vulnerabilidade social, ou pelo simples descaso e ineficiência do Estado.

 

Ricardo Falzetta

O tema deste Podcast é a Educação de Jovens e Adultos ou, simplesmente, a EJA, modalidade que hoje atende cerca de 3 milhões e meio de alunos no Brasil, e um dos caminhos para combater o analfabetismo funcional.

 

Paulo Cesar Faria

Como Fênix

De Pauvre Charretier (que sou eu)

 

Entre espinheiras, entre pedregais,

em minha dor, em meus ais,

quis um recomeço.

Ao qual começo,

entre espinhos e montanhas.

Eu que sou Sartre, um requisito de otimismo.

No meio de um abismo, quis um recomeço.

Sim, nos mais altos andares, cordilheiras, o começo.

Entre ventos contrários, novos cenários.

Eu que sou meio Saramago.

Na visão de um futuro, enfim avistei.

Agora que avistei o pico, vejo que está valendo a pena.

Vejo as aves e o horizonte.

Ao que eu passei, sim, por ventos atrozes,

por espinhos e pedregais, espinheiras e montanhas,

por tempestades e furacões.

Como Fênix, renasço das cinzas.

Das cinzas, contemplar o azul do céu.

O céu azul.

E tal como o azul céu,

me tornar Fênix em mim.

Como Fênix, enfim,

se tornar um recomeço em mim.

 

Paola Gentile

As histórias de vida de adultos que tiveram de deixar os estudos são as mais variadas.

 

Paola Gentile

O senhor estudou até que série, seo Jacó?

 

Jacó, jardineiro

2º ano.

 

Paola Gentile

E por que que o senhor parou?

 

Jacó

Porque parei, como é que se diz, no Norte cê sabe como é, o negócio é mais atrasado um pouco, né. Então vim praqui, continuei a trabalhar e não estudei mais.

 

Paola Gentile

Você estudou até que série, Isa?

 

Isa, doméstica

Estudei até a 5ª série.

 

Paola Gentile

Por que você parou?

 

Isa

Ah, porque eu trabalhava. Eu comecei a estudar depois de gra… de que eu cheguei em São Paulo. E depois eu comecei a trabalhar no escritório. E eu voltei a estudar, estudei só até a 5ª série, porque tava muito cansativo. Eu chegava muito tarde em casa. Eu tinha que dar conta da casa, tinha que voltar no outro dia pro escritório pra trabalhar… E então ficou assim.

 

Paola Gentile

O senhor estudou até que série, seo Ramiro?

 

Ramiro, metalúrgico

Fiz o primeiro grau.

 

Paola Gentile

Terminou o primeiro grau?

 

Ramiro

Sim, sim, sim, terminei.

 

Paola Gentile

E o senhor parou por quê?

 

Ramiro

Porque no lugar onde eu morava, não era aqui, não tinha mais, assim, pra frente. Era uma cidadezinha bem pequeneninha, né.

 

Paola Gentile

Que cidade que era?

 

Ramiro

É no Paraná, Guaporé, no Paraná.

 

Ricardo Falzetta

O abandono da escola pela necessidade de trabalhar e a falta de acesso por descaso do governo são as causas mais comuns dessa interrupção. Há outros motivos além desses. Muitas meninas que engravidam precocemente deixam a escola. Nem sempre retornam, mas se voltam, procuram os cursos de EJA.

 

Paola Gentile

Há também casos de crianças que sofrem algum tipo de abuso. Sem o olhar sensível da escola para diagnosticar essas situações e sem apoio especializado do estado, essas crianças, via de regra, não se encaixam no sistema e acabam abandonando os estudos.

 

Ricardo Falzetta

Por fim, as altas taxas de repetência também induzem a evasão escolar, sinal de que o sistema educacional, como um todo, ainda não está devidamente preparado para encarar a diversidade do público que hoje chega às salas de aula.

 

Paola Gentile

Mas se as estatísticas são negativas, as histórias de recomeço são inspiradoras.

 

Marinalva Costa Lima

Marinalva Costa Lima, eu sou babá e tô há dois anos. Frequentava já no Rio de Janeiro.

 

Paola Gentile

Você tinha quantos anos?

 

Marinalva

Acho que eu tinha 28. Me deu vontade de estudar porque eu me achava muito boba perto dos outros.

 

Paola Gentile

Como assim?

 

Marinalva

Eu não sabia ler, entendeu? Aliás eu sabia algumas coisinhas, pouquinha, mas não que eu frequentasse a escola. Meu pai ensinava a gente em casa. Então eu estava muito boba perto dos outros. Eu tenho que aprender a ler, eu tenho que aprender a ler, botei isso na cabeça e aí eu falei com a minha patroa e ela falou que “Não!”. Aí eu falei “ah, eu vou sim”. Teve uma amiga minha que falou assim “não, existe uma lei que vai te proteger, ela não vai te proibir”. Aí, quer saber, aí eu meti o pé e fui. E ela disse “ah, mas e as louças do jantar?”. Eu falei “eu lavo de manhã”. E ela “não, de manhã não”. E eu “então quando eu chegar [da escola] eu lavo”. Aí assim foi, né.

 

Ricardo Falzetta

Essa é Marinalva Costa Lima, a Nalva, nascida na Baixada Maranhense e criada em Pinheiro, a 86 quilômetros da capital, São Luiz. Quando tinha 28 anos de idade, sem nunca ter frequentado a escola, Nalva mudou-se para o Rio de Janeiro em busca de uma vida melhor. Trabalhou como doméstica por um ano e depois seguiu para São Paulo.

 

Marinalva

No final de 93 eu já vim pra São Paulo. Arrumei um emprego aqui, né. E vim embora. Aí aqui eu continuei estudando. Estudava ali numa escola ali na Praça da Pátria. Você conhece? O Luiza Lopes. Hoje é um negócio da polícia, lá. Um posto da polícia. Então eu estudei ali até a 5ª série, eu fui até 95. Aí saí também, parei. Por conta de problema, minha filha ficou doente lá no Maranhão. Aí eu voltei. Em 2005, acho que foi em 2005 eu vim aqui pro Santa [Colégio Santa Cruz]. Fiz a matrícula, comecei uns dois dias. Aí, tinha umas amigas que começaram a dizer “ah, no Santa Cruz é difícil demais. Se você passar da hora ninguém vai deixar você entrar”. Eu fui ficando com medo daquilo e larguei a escola. Fiquei uma semana e larguei e larguei a escola.

 

Paola Gentile

A coragem para retomar de fato os estudos precisou ser cultivada por doze anos.

 

Marinalva

Depois eu ficava eu vou, não vou… Ainda vim fazer a inscrição ainda duas vezes. Aí… Até um dia eu tomei coragem e digo “agora eu vou”. Aí comecei a estudar aqui.

 

Paola Gentile

Foi quando, isso?

 

Marinlava

Isso foi em 2017, acho que julho de 2017 que eu comecei.

 

Paola Gentile

E começou em que série? Na 6ª?

 

Marinalva

Não, eu comecei na fase 4, que acho que é o 4º ano, né professor? Que eu já tinha começado, então eu comecei de onde eu parei.

 

Paola Gentile

E continuou difícil ou está mais fácil?

 

Marinalva

Não… Hoje está mais fácil. Hoje eu já sei lei. Aqui tem uns professores maravilhosos. Dão a maior força pra gente, um apoio. Sabe, a gente se sente muito, sei lá, apoiado por eles. A gente desenvolve com eles uma relação de confiança, entendeu? De respeito, carinho, amizade… Então, isso, pra mim, me incentiva muito.

 

Ricardo Falzetta

Hoje, Nalva tem 56 anos e é leitora assídua não só de livros, mas também do mundo à sua volta.

 

Marinalva

Ah, poesia, conto, né. Eu leio um monte de coisa. Já li também um monte de livro espírita, eu tenho na minha casa. Qualquer livro que eu acho, assim, eu leio. Aqui no Santa eu já… Tem muitas coisas que… Tem coisas que eu já sabia e não entendia. Algumas coisas que eu aprendi muito aqui. Minhas filhas mesmo em casa falam que eu tô muito mudada, né. Eu tô… Eu formei opinião, ninguém discute comigo. Elas dizem “oh, discute com a minha mãe”, entendeu? [risos] “A mãe agora tá craque em tudo”.

 

Ricardo Falzetta

Está empoderada!

 

Marinalva

Empoderada, exatamente!

 

Paola Gentile

Para Nalva, o céu é o limite.

 

Paola Gentile

Até onde você pretende chegar?

 

Marinalva

Olha, eu não sei… Eu não sei, mas eu quero aprender mais, eu quero aprender mais, entendeu? E agora que eu descobri esse mundo de crônica, poesia, sabe? Que a gente tem um projeto aqui no segundo semestre, que nós trabalhamos, estudamos muito crônica, sabe. Isso me chamou muito a antenção. Agora estamos estudando poesia. Eu tô descobrindo um universo muito bonito, sabe. Então eu não vou parar tão cedo.

 

Ricardo Falzetta

Felipe Bandoni é professor de Ciências de Nalva e de mais algumas centenas de alunos jovens e adultos. Graduado em Biologia, mestre em Fisiologia e doutor em Evolução pela Universidade de São Paulo, Felipe foi eleito, em 2012, o Educador do Ano no Prêmio Educador Nota 10, o mais importante da Educação brasileira.

 

Paola Gentile

Felipe não começou sua carreira como professor de EJA. Como muitos dos que terminam uma licenciatura, ele primeiro deu aulas para turmas regulares.

 

Felipe Bandoni

Comecei trabalhando com jovens regulares, do 6º ao 9º ano, acho que como a maioria dos professores. E agora, mais recentemente, eu voltei a trabalhar com esse público também. Então comecei com os adolescentes, passei para os adultos e agora estou trabalhando com adultos e adolescentes ao mesmo tempo.

 

Paola Gentile

Muita diferença de um público para o outro?

 

Felipe Bandoni

Muita diferença.

 

Paola Gentile

Como é que você sentiu? Como foi a adaptação de um público para o outro?

 

Felipe Bandoni

Acho que o primeiro choque que um professor tem quando entra numa turma de jovens e adultos é a heterogeneidade da turma. A coisa mais marcante é a heterogeneidade de idades, mas não é só isso. Porque junto com as idade vêm muitas outras coisas. Digo que a idade é um choque porque impressiona você entrar numa sala e ver pessoas… No semestre passado, por exemplo, a gente tinha uma turma que tinha pessoas de 16 a 82 anos. Na mesma turma. Acho que hoje também a gente tem turmas que têm uma variedade enorme de idades. Mas não é só de idade. A gente tem uma variedade de expectativas com a escola. O que que cada um quer. O que um aposentado quer na escola é muito diferente do que um adolescente quer. A ideia que se tem de escola… Uma pessoa que estudou numa escola trinta anos atrás tem uma visão de escola bem diferente do que de outros que estudaram mais recentemente. Enfim, os planos das pessoas são muito diferentes. Tem pessoas que querem prosseguir nos estudos, tem pessoas que têm uma intenção de seguir no trabalho, de prosseguir na carreira… Precisa do diploma para subir no trabalho. E outros querem simplesmente vir e ampliar seus horizontes. Tem gente até que vem por recomendação médica pra escola. É muito heterogêneo. Acho que a gente tem um trabalho de tentar fazer com que todo mundo se desenvolva em relação à cultura letrada, em relação às aprendizagens que têm a ver com a escola. Leitura, escrita, os conceitos de ciências, de matemática… A gente quer que todo mundo avance. Mas, eu acho que a heterogeneidade, nem que eu quisesse eu conseguiria nivelar ou coisas assim. O que a gente tem que fazer e o que a gente tenta fazer é valorizar essa heterogeneidade para gerar debates nas aulas. Então, vou dar um exemplo que está acontecendo agora. A gente tem uma heterogeneidade muito grande na sala da fase 9, que seria mais ou menos equivalente ao 9º ano. Tem jovens, tem pessoas mais velhas, pessoas com experiências bem diferentes. E a gente está fazendo um trabalho sobre gênero e sexualidade. E os mais jovens têm opiniões bem diferentes dos mais velhos. Poder colocar essas questões em debate é muito rico. É muito interessante ouvir como cada um defende o seu ponto de vista, o seu argumento. Então, eu acho que, em vez de nivelar, o melhor é a gente valorizar e tentar trazer e colocar tudo em jogo, pra poder aprender todo mundo junto, inclusive eu.

 

Ricardo Falzetta

Quem ouve Felipe contar sua história pensa que ele teve uma formação específica para atuar na EJA. Mas a história não é bem assim.

 

Felipe Bandoni

A formação são as leituras e estudos que a gente faz internamente aqui na escola ou por conta própria.

 

Paola Gentile

Existe material para consulta?

 

Felipe Bandoni

Existe. Existe um conhecimento construído sobre educação de adultos que a gente tem estudado e tem ajudado a fazer também.

 

Paola Gentile

Quais são suas fontes, Felipe?

 

Felipe Bandoni

Ah, acho que em primeiro lugar o Paulo Freire, que é o grande mestre pra nós, que desenvolveu toda uma teoria mesmo. Ela é tão boa que vale não só para adultos, mas vale para a aprendizagem em geral. Mas a gente tem seguido muito e estudado muito a ideia de letramento. Talvez a Angela Kleiman seja uma referência importante pra nós. Mais recentemente a gente tem, na equipe pequena de professores onde eu estou trabalhando, a gente tem estudado muito sobre oralidade, sobre a fala planejada. Sobre como desenvolver a oralidade é importante para os adultos. A gente tem estudado muito isso, então tem outras referências nessa área, que é o pessoal que estuda o discurso. Tem o professor [Luiz Antônio] Marcuschi, de Pernambuco, que é uma referência importante. E outros.

 

Paola Gentile

Você desenvolve o seu próprio material pedagógico ou você tem material disponível?

 

Felipe Bandoni

Aqui na escola a gente desenvolve o nosso próprio material e a gente segue muito o ritmo dos alunos e os interesses deles. Muda muito de um semestre para o outro.

 

Paola Gentile

Me dá uma exemplo. Você começa o ano com uma proposta e aí você vai adaptando? Como é que é assim essa rotina?

 

Felipe Bandoni

A gente tem um plano com alguns objetivos que a gente deseja atingir, alguns conceitos, e até alguns assuntos que a gente propõe para os alunos. Mas o ritmo em que a gente vai seguir com aquilo e as veredas que a gente vai percorrer, aí a gente procura ouvir os alunos para seguir. Então vou dar um exemplo agora que está acontecendo também. A gente tava estudando o petróleo na fase 8 e eu percebi ao longo dos estudos que os alunos estavam muito interessados nessa questão do subsolo, do que que tem embaixo da terra. Daí começaram questões mais planetárias, que não estavam muito no programa, mas que a gente vai abordar. E apareceu com muita força a questão da Terra plana, por exemplo. São questões que nunca tinham aparecido ainda com força aqui pra mim. Mas agora tem aparecido com força e os alunos querem discutir e pergunta se é verdade, se não é, como é que a gente pode saber para descobrir. Então, a gente está bem no finzinho do ano, mas provavelmente isso vai nos ocupar por esse mês, para estudar essas questões.

 

Paola Gentile

Felipe conta que aprende com seus alunos tanto quanto ensina. Ou até mais.

 

Felipe Bandoni

Vamos falar então um debate sobre alimentação. Tem alunos, por exemplo, que tiveram uma história, uma infância, rural. E outros alunos que não tiveram. Tiveram uma infância totalmente urbana. Esses alunos que têm a vivência na roça eles têm um monte de conhecimento sobre o plantio, sobre os alimentos, sobre as variedades, sobre as sementes, sobre um monte de coisas, a culinária, que vem à tona nessas aulas. A gente está falando de mandioca, imagina, quem sou eu para dar uma aula sobre mandioca para alunos que plantaram, que colheram e sabem muito disso? Tem professores aqui na escola que desenvolvem um trabalho de plantio. Os alunos plantam a roça, todo mundo observa junto o desenvolvimento, eles colhem, eles escrevem sobre isso, fazem cálculos, tudo ali no roçado. E é bem interessante. Acho que até a palavra é interessante. Porque, eu sou professor de ciências, então é bem comum “horta na escola”. Os professores fazem horta e as crianças fazem horta aqui na escola. Mas o desses alunos chama roçado. É o roçado.

 

Ricardo Falzetta

A visão freireana marcou o projeto da Lua, que deu a Felipe o prêmio Educador Nota 10 em 2012.

 

Felipe Bandoni

Esse projeto foi uma investigação nós fizemos sobre a Lua e, desde então, continuo fazendo essa investigação. E partiu de uma fala de um aluno. Eu estava ensinando o canônico. Então, tudo isso que eu estou falando, sobre ouvir os alunos, também é um aprendizado que está em construção. E nessa aula, especificamente, eu não estava ouvindo os alunos, eu vinha ali com o que tem no livro didático sobre a Lua. O livro didático de ciências diz que tem os movimentos de rotação, os eclipses e tudo mais. E lá pelas tantas, eu mostrando uma figura da Lua, e uma aluno pergunta “mas, cadê São Jorge aí na foto, professor?”. Eu fiquei muito surpreso com essa pergunta, mas eu acho que eu consegui lidar bem com a situação porque eu pedi que ele viesse e mostrasse para todo mundo “mas onde está São Jorge? Onde você está vendo?”. Aí, assim, se desenrolou uma investigação, mesmo, sobre, afinal, o que é que a gente está vendo na Lua. E essa investigação passou por desde ouvir as histórias que os alunos tinham sobre a Lua, que eram riquíssimas, surpreendentes e assustadoras, até. Porque tratam muitas vezes de seres sobrenaturais, vamos dizer, mas estavam muito longe de ser uma coisa folclórica. Tava muito longe de ser uma coisa distante. Não era assim “ouvi falar de Lobisomem”, não era isso. Era “meu primo é Lobisomem, eu fui numa caçada de Lobisomem”. Eram coisas muito vivas. As pessoas falavam isso muito sérias, não estavam brincando comigo. E eu aprendi a entender o que é crescer na roça, crescer num lugar onde não tem energia elétrica, no meio dos bichos muitas vezes e como é que essas coisas vêm à tona. Enfim, começou aí, mas a gente teve também investigação com telescópio, a gente usou o telescópio para olhar para a Lua, fotografamos e olhamos como que eram as fotos, olhamos as fotos das viagens à Lua, enfim, então foi um processo bem rico. Os alunos escreveram bastante sobre isso e foi isso que acabou chegando ao prêmio. Desde então, esse projeto já tem muitas ramificações e muitos desdobramentos. Então, cada semestre que passa, ele já é meio diferente. Nunca mais foi igual àquele de 2012.

 

Paola Gentile

Temas polêmicos também fazem parte do currículo de EJA e trazem uma riqueza ímpar para as aulas.

 

Felipe Bandoni

Eu gosto muito desse projeto que a gente está conduzindo sobre gênero e sexualidade, porque acho que é muito transformador para nós, professores, e para os alunos. Passar por esse processo de discutir questões que estão tão profundamente enraizadas em nós. A gente começa com discussões sobre o corpo, mesmo. O corpo do homem, o corpo da mulher… Mas depois, a pergunta número dois já não é uma pergunta biológica. Já é uma questão que tem a ver com a orientação sexual, com os desejos das pessoas, como isso se manifesta, de jeitos diferentes. E aí as vivências na sala são muito variadas, e, assim, tem embates, as pessoas que são mais conservadoras, tem pessoas que não são conservadoras, tem pessoas, bom, enfim, de tudo né. A gente tem alunos transsexuais, por exemplo. Transgêneros. Tá tudo misturado nesse caldo e eu acho que, nesse processo, a gente consegue ouvir muito o que os alunos têm para dizer. Os alunos também ficam meio chocados, porque eles entram em contato com realidades, durante a pesquisa que eles fazem, que eles não esperavam. Então, só para contar para vocês de alguns dos temas que eles estão investigando agora, estão estudando sobre homofobia, estão estudando sobre assédio sexual, sobre o aborto, estão estudando sobre violência doméstica. Então, assim, entrar em contato com os dados sobre isso. Tirar um pouco a sua opinião da frente, para conhecer um pouco sobre o assunto. Tornar que esse assunto, que é do dia a dia, uma coisa escolar, a gente estuda. E depois a gente volta a pensar nas opiniões. E isso, acho que é muito sério esse trabalho, porque a gente mexe também com situações de muita violência sofrida, com experiências que os alunos trazem, que são muito… que estão muito lá no fundo e vêm à tona também. Então a gente precisa ser muito cuidadoso, muito delicado para saber ouvir, muitas vezes saber encaminhar, conversar sobre isso. E também entrar em contato com realidades que a gente acha que estão muito distantes, que estão muito longe, mas que estão aqui, embaixo do nosso nariz, que são o dia a dia das pessoas. Então acho muito importante.

 

Ricardo Falzetta

Na EJA também tem prova, mas o modelo utilizado por Felipe é baseado na avaliação formativa, aquela que acontece ao longo de todo o processo de aprendizagem.

 

Felipe Bandoni

A gente tem uma coisa curiosa, que é um desejo de alguns alunos, de viver essa escola que não foi vivida no passado. Então os alunos me questionam assim “mas não vai ter prova, professor? Cadê a prova? A gente quer fazer”. Então, para alguns grupos a gente tem esse tipo de avaliação, ela me ajuda em algumas coisas, mas ela não é suficiente para olhar para muitos aspectos. Então, por exemplo, a questão da oralidade, numa prova, ela não consegue ser avaliada. Então eu favoreço muito situações em que os alunos têm que se expor oralmente para eu poder observar como é que eles lidam com esse desafio de ter que falar alguma coisa em público, comunicar uma informação para outra pessoa. E às vezes a gente percebe os avanços não só em situações de sala de aula. Por exemplo, a gente está organizando um sarau e quer que os alunos que estão organizando comuniquem os outros. Eles têm que preparar uma fala. Eles têm que contar que dia que é o sarau, que horário que vai ser, quem é que pode falar, se vai ter lanche, se não vai, que que tem que levar… Mas ele tem que dizer isso para uma outra turma. Isso gera toda uma situação, mas é um momento de aprendizagem. Então, é interessante olhar que a avaliação pode acontecer nesse momento. Depois sentar com os alunos que fizeram o recado e dizer “como é que foi? Qual foi a dificuldade? Como é que a gente pode fazer para melhorar?”. Isso que é avaliação. Então, tem essas situações, tem situações de… Eu sou professor de ciências, então coisas mais experimentais, mão-na-massa, que a gente tem que olhar também. Enfim, são variadas as situações.

 

Paola Gentile

As condições de ensino de Felipe são privilegiadas. Ele leciona em uma das escolas mais famosas da rede particular de São Paulo, cuja estrutura à disposição de professores e alunos é aquela que toda rede pública do país deveria ter. Mas as políticas públicas para a EJA estão a anos-luz do ideal, como avalia o professor.

 

Felipe Bandoni

O primeiro desafio da EJA é existir. Acho que a gente tem uma situação de penúria total de financiamento para a EJA. A gente está aqui numa ilha de condição de trabalho, vou chamar assim, aqui no colégio Santa Cruz. Mas a EJA na escola pública ela sofre com redução de verbas. A gente tem um dado de redução nos últimos anos de 98% na verba que é destinada à Educação de Jovens e Adultos. 98% é acabar, na prática. Recentemente, a gente teve um congresso aqui de Educação de Jovens e Adultos e a gente ouviu os relatos de outros professores, de outros espaços, dizendo das dificuldades que eles passam. Então, acho que essa é uma questão importante, para começar a discussão. A segunda questão é a da formação de professores, que é isso que eu disse, a gente não tem professores especialistas na EJA. Ou temos, mas são raros. Porque os cursos de formação não se interessam por essa questão. As licenciaturas… A pedagogia não aborda… Dificilmente uma pessoa sai querendo ser professor de Educação de Jovens e Adultos. Acho que tem uma carência também de materiais produzidos, de estudos produzidos. Acho que tudo isso está em questão ainda. Tem muita coisa que pode ser feita. Eu penso que, na licenciatura, nos jovens professores que estão aí se formando, acho que tem uma força muito grande que poderia ser canalizada para a EJA. São professores que estão ainda inexperientes, mas acho que, se bem orientados, conseguiriam, por exemplo, dar conta de trabalhar em lugares onde outros professores não querem ou não podem ir trabalhar. Então, eu olharia com carinho para os professores em início de formação, que seriam professores que se encaixariam bem e aprenderiam muito trabalhando na EJA. Para depois se dedicarem, quem sabe, a outros cursos. Acho também que um modelo que é interessante de olhar com carinho é esse modelo no qual eu fui formado, que esse aqui da escola, que é usar estruturas que já existem para cursos regulares, para cursos noturnos. Tentar usar espaços das escolas, tanto públicas como particulares, para trabalhar com os cursos de EJA. Ampliar bastante a oferta. Agora, uma coisa que eu aprendi conhecendo outras iniciativas de EJA é que, como o alunado é muito variado, a gente precisa de iniciativas também muito variadas. Então a gente tem que ter EJAs presenciais, tem que ter EJAs a distância, tem que ter EJAs nas comunidades, tem que ter EJAs em escolas centrais… Para atender todo mundo, a gente precisa ser muito flexível. Então, do ponto de vista de política pública, acho que quanto mais iniciativas, quanto mais variadas forem, melhor.

 

Paola Gentile

Um dos alunos que se beneficia dessa flexibilidade é Paulo Cesar Costa, o PC.

 

Paulo Cesar Costa

Você quer o nome também…Tem um nome também artístico, né.

 

Paola Gentile

Ah é?

 

Paulo Cesar

É… O nome do poeta também. Eu faço algumas poesias. O Felipe gosta muito das minhas poesias, o Pedro também. O pessoal gosta.

 

Paola Gentile

E qual é o seu nome artístico?

 

Paulo Cesar

Pauvre Charretier.

 

Paola Gentile

Nossa! Escreve aqui que eu não… [risos]

 

Paulo Cesar

Você não sabe parle français?

 

Paola Gentile

Não sei falar francês!

 

Paulo Cesar

Pau-vre Char-re-ti-er.

 

Paola Gentile

O que que significa?

 

Paulo Cesar

Incrível que pareça o nome como é…

 

Paola Gentile

Pobre…

 

Paulo Cesar

Carroceiro

 

Ricardo Falzetta

Pauvre Charretier é o poeta da turma. É dele a poesia sobre recomeço, que ouvimos no início deste Podcast.

 

Paola Gentile

PC tem 55 anos, já quis ser roqueiro, médico e jogador de futebol. Mas o teste vocacional indicou para ele as carreiras de escritor, jornalista ou publicitário.

 

Paulo Cesar

“Eu já escrevia desde os dez, onze anos. Então, na verdade, eu comecei a escrever assim. Escrever, não era bem escrever. Eu pegava uns bonequinhos, fazia uns negocinhos e era como se fosse um marcapasso. Depois eu fui desenvolvendo as coisas. E aí, numa certa idade, eu comecei a escrever. Gostava de escrever muito, de ler muito José de Alencar, Machado de Assis. E aí eu comecei a fazer um desafio. Era eu e meu irmão. Meu irmão fazia um texto mais cômico e eu queria fazer um texto mais romântico e tal. Eu tinha umas técnicas, mas eu fui fundindo as técnicas que eu já tinha. Então eu comecei depois um caderno de poesia que eu tinha, que era… Umas poesias bem assim, tipo Nostradamus, sabe. Porque eu li muito sobre Nostradamus. Então eu comecei a fazer tipo as centúrias, que a poesia dele era tipo centúrias. Aí eu fui fazendo esse tipo de poesia. E fui fazendo outras. Então hoje a poesia que eu tenho, até poesia até erótica eu tenho.

 

Ricardo Falzetta

A vida cheia de percalços não tirou de PC a vontade de estudar, mas atrasou seu percurso escolar. Quando era mais jovem, ele passou por várias escolas, repetiu de ano várias vezes, até que abandonou os estudos ainda no Ensino Fundamental.

 

Paulo Cesar

Eu sou de São Paulo, nasci num bairro muito conhecido, que é a Casa Verde.

 

Paola Gentile

E você frequentou a escola quando você era criança?

 

Paulo Cesar

Frequentei, né. Cheguei a frequentar. Tive primeiros tempos de escola. Tive algumas escolas que comecei. Comecei em 72, 73, por aí. E eu era muito caladão na época. Ao contrário que eu tô hoje em dia eu sou muito agitado. Então eu era tipo… Como eu era meio autista, então, eu ficava muito quieto, na escola. Então aconteceu que a turma não gostou muito do meu jeito. E aí eu tive que sair da escola, porque os caras queriam jogar pneu em cima de mim, sabe. E aí eu tive que sair lá.

 

Paola Gentile

Que série que você estava?

 

Paulo Cesar

Eu estava no primário, mais ou menos. E em 79, eu consegui fazer o registro de nascimento, que eu não tinha desde 1964. E aí eu fiz um curso, um teste para saber qual seria o meu nível educacional. Aí eu tive a oportunidade de estudar num colégio chamado São Bento. Eu fiquei mais ou menos um ano lá. Depois eu passei a estudar num colégio estadual.

 

Paola Gentile

Você tinha quantos anos nessa época?

 

Paulo Cesar

Eu tinha o quê… 15 anos. E aí eu fui fazer a 5ª. Depois fiz a 6ª. Depois, na 6ª, eu tive muitos problemas de desenvolvimento na escola. Eu era um tanto difícil para se lidar com uma nova realidade. Aí, eu fiquei até… Aí eu voltei… Aí eu fiquei algum tempo, repeti de ano. A coisa que eu mais fazia era repetir de ano.

 

Paola Gentile

Quantas vezes você repetiu?

 

Paulo Cesar

Eu repeti a 6ª acho que foi de 80 até 82, 83. Quando eu consegui passar, a gente teve que se mudar para o Rio de Janeiro. A gente mudou para o Rio de Janeiro e a gente passou necessidade muito no Rio de Janeiro.

 

Paola Gentile

Por que vocês mudaram para o Rio?

 

Paulo Cesar

Porque o meu padrasto queria que a gente morasse lá. Porque ia ser bom, não sei o que, e não foi aquela coisa toda, né. Na verdade, ele escolhia serviço. E a gente começou a passar necessidade, também. Chegar um ponto de abrir a geladeira e só tinha água, farinha e cebola pra comer é algo assim muito triste. É por isso também a causa de Pauvre Charretier. É um contraste que existe na minha vida.

 

Paola Gentile

Sem terminar os estudos, PC acabou saindo de casa para tentar a vida sozinho e enfrentou a dura realidade das ruas, por longas três décadas.

 

Paulo Cesar

Quando eu comecei a se soltar um pouquinho dos meus pais, foi em 89, eu fui morar em Campinas. Foi uma vida muito conturbada. Se eu fosse contar ia ser um livro. Mas o que aconteceu? Passou um tempo, eu estava em situação de rua, né, e eu morava no Arsenal. Aquela época o que tinha no Arsenal.

 

Paola Gentile

O que é o Arsenal?

 

Paulo Cesar

Arsenal é um centro de acolhida. Eu morava no Arsenal. Aí tinha um rapaz que estava estudando jornalismo e morava lá. E eu falei “mas você estuda aonde?”. “Eu estudo eu faço faculdade”. E eu falei “pô meu, mas como é, você faz faculdade?”. “Faço”. E aí tinha um posto de estudo na época. Aí eu comecei pensar, poxa vida, eu podia voltar a estudar. Mas eu sou velho… Aí eu comecei a pensar, mas quem é velho? Velho? Velho é quando a pessoa deixa de sonhar. Mas passou um tempo ainda. Rateei ainda. Aí fui para outro albergue, fui parar em Minas depois. E teve essa vontade de voltar a estudar. Aí voltei para São Paulo e tive uma tentativa de voltar a estudar lá no Canindé. Não aconteceu, eu fui para Pinheiros e, de Pinheiros é que… Eu já conhecia aqui, né. Já conhecia o San aqui, mas não conhecia bem o EJA aqui. Aí lá tinha uma placa, que tinha quem se interessasse em voltar a estudar… E tinha o EJA. Aliás, tinha duas opções lá em Pinheiros. O Mackenzie e aqui. E aqui, vamos ver como é e tal… E fiz o exame. Na verdade eu estava querendo procurar o histórico. Aí o histórico não deu. Porque no Rio de Janeiro não tinha como eu pegar esse histórico. A não ser se eu fosse lá e pegasse esse histórico. Por que por incrível que pareça, a última escola que eu estudei ela simplesmente foi queimada. Aconteceu um incêndio, queimou tudo. E aí eu tinha que ir lá para o Rio para resolver esse problema. Eu falei “pô, mas não dá para eu fazer isso”. E quanto tempo eu ia ficar. Eu tenho algum prazo. São três dias no máximo que você fica de fora de um espaço que é um espaço de albergue. E aí eu pensei “pô, se eu for lá eu vou ficar mais de um mês. Então eu vou ter que fazer o seguinte, eu vou nem que for voltar do zero, mas eu vou voltar”.  Aí eu fiz o exame aqui e aí eu tive a oportunidade de voltar a estudar na sétima série, né.

 

Paola Gentile
Que ano foi isso?

 

Paulo Cesar

Foi no ano passado.

 

Paola Gentile

O que te motivou a voltar a estudar? Qual é o seu objetivo?

 

Paulo Cesar

Olha, difícil a gente falar qual é o objetivo, né, porque eu tive tantas vezes as coisas que eu gostaria de fazer… Eu lembro que eu queria ser médico quando eu era pequeno e aí quando eu vi que tinha que ter sangue eu falei “não, não é comigo”. Aí eu queria ser jogador de futebol mas não era um craque de bola. Era um jogador meia-boca. Queria ser roqueiro, mas eu era uma pessoa um pouco apegada à minha mãe. Eu tive duas chances de entrar em banda de rock. Eu gostava de tocar uma guitarra. Fiz teste para isso. Mas aí, como eu estudava no Imperatriz, eu tinha essa facilidade de escrever, né. De escrever, de falar, faço algumas poesias desde aquela época. E a minha motivação é continuar os estudos. Aonde que eu posso chegar… Se eu posso chegar numa faculdade. Eu procuro saber qual é o que eu encaixo melhor, né. Eu pergunto para os professores e eles falam “não, você serve para ser projetista de teatro, roteirista de teatro, porque você faz umas coisas bem dramáticas”. Eu falei “poxa, agora eu tô que nem William Shakespeare!”. Que William Shakespeare, além de poeta, ele era dramaturgo. Puxa vida, agora eu estou comparado a William Shakespeare, também assim é demais…

 

Ricardo Falzetta

Em 2019, com a ajuda dos professores, PC lançou seu primeiro livro no sarau promovido pela escola. Ouça mais um de seus poemas, este sobre a chuva.

 

Paulo Cesar

Movimento das nuvens

Pauvre Charretier, que sou eu.

 

As flores enroladas num manto vermelho.

Os tapetes persas, a água até o joelho.

As gotas de chuva entristecem as casas.

Alegrando as plantações de uva.

E a nuvem passa.

Homens se abrigam embaixo das pontes.

Outros, em marquises.

Esperando o Sol e rangendo os dentes.

Outros fazem preces.

Outros se consomem totalmente, estressados.

Outros ingleses, outros franceses.

Alguns esperam o baixar das águas.

Alguns esperam o movimento dos deuses.

Outros fazem cálculos de suas próximas léguas.

Enquanto alguns esbravejam irritados.

E a nuvem passa com gotas de água.

E a chuva vai passando.

O tempo chuvoso já smilinguido.

Algumas pessoas se antecipam, andando.

Outras saem, ouvindo música.

Que, acoplada, é ouvida no fone de ouvido.

Uns tantos saem com um violino.

Outros tantos, com um elegante piano.

Outros tantos, com uma guitarra elétrica.

Muitos tantos saem roncando a cuíca.

E a nuvem dissipa e Sol se alastra.

E, por fim, segue a vida.

 

Paola Gentile

Para saber mais sobre alfabetismo funcional, navegue no site do Inaf e acesse as tabelas e os gráficos de todas as medições.

 

Paola Gentile

O Podcast do Inaf é produzido pela RFPG Comunicação.

 

Ricardo Falzetta

Roteiro e apresentação, Paola Gentile e Ricardo Falzetta.

 

Paola Gentile

Edição e mixagem, Marcos Azambuja e Ganzah Produtora de Áudio.

Conheça o Inaf

O Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) é um estudo de alcance nacional, realizado desde 2001, que estima os níveis de alfabetismo funcional da população e investiga seus determinantes. Parceria entre o Instituto Paulo Montenegro e a ONG Ação Educativa, a iniciativa é coordenada pela Conhecimento Social. O levantamento é feito por meio de entrevista pessoal e teste cognitivo aplicado a uma amostra representativa da demografia e da diversidade socioeconômica e geográfica da população brasileira que está entre 15 a 64 anos.

De acordo com o Inaf, o indivíduo é funcionalmente alfabetizado quando apresenta um determinado grau de proficiência em letramento e numeramento. O letramento é a habilidade de ler e escrever diferentes gêneros, em diferentes suportes e formatos, com coerência e compreensão crítica. O numeramento é a habilidade de construir raciocínios e aplicar conceitos numéricos simples, ou seja, usar a matemática para atender às demandas do cotidiano. É por meio dessas capacidades que o indivíduo terá plenas condições de participar ativamente da sociedade em seus mais diversos âmbitos.

Os resultados do Inaf localizam a população pesquisada em cinco níveis de alfabetismo. Nos dois primeiros – analfabeto e rudimentar – agrupam-se os chamados analfabetos funcionais. Nos três níveis seguintes – elementar, intermediário e proficiente – concentram-se os indivíduos considerados alfabetizados funcionalmente.

Quem Somos Nossa Metodologia

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